As Artes Marciais são artes de guerra. Ensinam muito sobre táctica e estratégia. Ensinam a ter resiliência, paciência, e a agir apenas no momento certo. Muitos livros têm tentado fazer a ponte entre as lições aprendidas do tatame e a sua aplicabilidade no mundo dos negócios. Esta é a minha modesta contribuição.
Olhei pelo canto do olho para o cronómetro. Ainda falta um minuto e meio. Noventa segundos. Três porções de trinta segundos. O suor escorre-me por todo o corpo. Uso as minhas últimas forças para tentar ao máximo resistir ao braço que tenho à volta do pescoço e que me sufoca. Os dedos suados escorregam. Sinto-me tonto. É agora, penso. Vou desistir. Mas algo dentro de mim impede-me de o fazer. Será orgulho? Talvez não, afinal luto com um homem 20 kg mais pesado e forte do que eu. Se desistir agora, perco de cabeça erguida, penso. E novamente afasto esse pensamento. Vou lutar até ao fim. Vou resistir até não conseguir mais agarrar o seu braço ou perder completamente as forças. O som do cronómetro dispara bem alto. Os braços saem de volta do meu pescoço. Viro-me e sou recebido com um sorriso largo e generoso. Boa luta, amigo, diz-me ele, bom esforço – e dá-me um apertado abraço, fruto daquela cumplicidade que só é forjada com o suor do tatame.
Miyamoto Musashi, o mais conhecido Samurai da sua época e autor do famoso livro sobre sobre estratégia militar “O Livro dos Cinco Anéis”, afirmava constantemente que “só conseguimos lutar da forma como treinamos”. Se o que treinamos é desistir às primeiras contrariedades, às primeiras dificuldades, será exactamente isso que transferiremos para o campo de batalha empresarial.
Estou perfeitamente convicto de que as Artes Marciais possuem em si a capacidade para mudar o mundo – no sentido em que permitem que cada um de nós mude individualmente para que, colectivamente, possamos realizar verdadeiras revoluções. Nesse sentido, o melhor professor que podemos ter de estratégia e táctica empresarial é o nosso Sensei, é o nosso Dojo e é o nosso grupo de amigos guerreiros. É o suor que derramamos diariamente no tatame. É sermos levados a perceber, aula após aula, treino após treino, luta após luta, que conseguiremos ser amanhã melhores do que hoje. Que muitas vezes vamos perder a luta, mas que a batalha nunca será perdida, pois ganhamos algo que é muito maior do que a soma das partes – a capacidade de termos calma e resiliência mesmo perante os mais improváveis cenários.
No dia seguinte estou no escritório. Fato e gravata. Preparo uma reunião importantíssima. Os dedos ainda doem do esforço do dia anterior – uma doce lembrança de que desistir, por maior que seja o sofrimento, por maiores que sejam as dificuldades, não é uma opção! Reflito sobre a luta do dia anterior e sobre a que estou prestes a começar. O mercado mudou, está mais competitivo – o que veio revelar os verdadeiros princípios e valores das pessoas. Conhecidos que ainda ontem pareciam afáveis, tornaram-se hoje em opositores cruéis. Não sei bem o que me espera quando a porta do escritório se abrir e começar a minha reunião. Uma coisa é certa – sou hoje melhor do que ontem, porque ontem não desisti; lutei, sacrifiquei-me, agarrei aquele braço como se a minha própria vida dependesse disso. De fato e gravata olho para os meus dedos calejados, inchados e doridos. Sorrio. Venha o que vier, estou pronto para mais um round.