O futuro digital do fitness em Portugal

O futuro digital do fitness em Portugal

Esta pequena reflexão tem como intuito a partilha de opinião do cenário actual do fitness digital e a realização de uma projecção de como pode ser o futuro do sector, na pós pandemia.

Analisando as 10 Principais Tendências Globais de Consumo para 2021, da Euromonitor International, identificamos 4 tendências que têm impacto directo no consumidor de fitness.

1. Desejo por Conveniência
É identificado nos consumidores o Desejo por Conveniência do mundo pré-pandemia, devido ao facto de sentirem falta das comodidades que passavam despercebidas antes da ruptura nos hábitos existentes. Este fenómeno vem criar uma grande pressão nas empresas, para que elas se adaptem rapidamente nas suas operações, desenvolvendo uma experiência para o cliente mais resiliente enquanto preserva os níveis de conveniência. O grande desafio para as empresas é o de manter a agilidade e a continuidade da jornada de compra em todos os canais.

2. Realidade “Figital”
A nova Realidade “Figital”, que consiste num modelo híbrido formado pelos mundos físico e virtual, em que os consumidores podem viver, trabalhar, fazer compras e divertirem-se, fisicamente e online. Neste capítulo as empresas podem integrar processos virtuais nos espaços físicos para oferecer o conforto de uma visita aos consumidores que preferem ficar em casa. A oferta de experiências virtuais nos lares dos consumidores ainda é crucial para impulsionar as vendas online.

3. Optimização do Tempo
A tendência de Optimização do Tempo seguirá em alta, pois os consumidores vão continuar a passar mais tempo em casa e menos a viajar. Para aproveitar esta tendência, as empresas devem ser vistas como parceiras que ajudam os consumidores a adaptarem-se a um novo estilo de vida, no qual as actividades serão programadas de forma não convencional para atender às especificidades de cada agenda.

4. Ordem é Pechinchar
A Ordem é Pechinchar e priorizar produtos e serviços de valor agregado e alinhados às medidas sanitárias vigentes. As empresas devem fazer propostas de valor justas e competitivas, oferecendo opções acessíveis sem redução da qualidade. Os pacotes premium devem vir acompanhados de uma história que desperte empatia e tenha uma forte ligação com a saúde, o cuidado pessoal e o bem-estar psicológico.

Qualquer uma das tendências identificadas em cima está aplicada à realidade dos ginásios, ou seja, existe uma necessidade grande de adaptação às novas necessidades dos clientes, uma existência física (instalação) e digital (aulas e treino personalizado online), uma capacidade de adaptação à agenda do cliente e uma proposta de valor justa e que crie uma ligação a um estilo de vida saudável.

Numa análise sobre quais as áreas que estão em maior crescimento pós pandemia, identificamos que andar de bicicleta, a corrida, as aulas de grupo e as modalidades de Yoga e Pilates, apresentam uma curva de crescimento de praticantes muito acentuada, principalmente, porque foram modalidades possíveis de fazer durante o período de pandemia (algumas em modelo virtual). No top de actividades em crescimento e expansão estão os Virtual/eSports, Treino em casa e aulas online ou via App(1).

Estas tendências estão claramente presentes na realidade nacional, este novo panorama cria um novo espectro de aulas, um novo modelo de treino, que basicamente sofre uma aceleração, provocada pelo surgimento da Covid-19 e de todas as restrições que daí surtiram. A existência de aulas e serviços online, como complemento aos serviços já existentes no ginásio e mesmo como serviços únicos que vivem só no universo online.

O presente que vivemos, era o futuro idealizado por muitos daqui a alguns anos. Não deixa de ser interessante de perceber que muitos relatórios previam este caminho, onde os big players iam estar presentes (Apple e Amazon, por exemplo) na indústria do fitness. A realidade nacional não irá estar blindada a esta evolução “natural”, no entanto devemos analisar outros pontos importantes:

  • Portugal é um país latino, onde o contacto e socialização são culturalmente muito enraizados;
  • Tradicionalmente, a adopção das novas tendências do fitness são normalmente tardias, por exemplo, o Planet Fitness (EUA) uma das primeiras cadeias low cost, nasce em 1994, a cadeia McFit (Alemanha), surge com o conceito low cost na Europa em 1997, a primeira cadeia low cost, ou Premium Low cost, em Portugal, surge em 2011 através do Fitness Hut.
  • A falta de socialização provocado pelo isolamento, tende a ser combatida com a procura de momentos de socialização e a criação/solidificação de culturas mais tribais.

Olhando para todo este cenário e tendo em conta as variáveis que existem no nosso país, de que forma podemos encarar o futuro e qual o impacto criado pelo digital:

  • O digital veio para ficar como mais um canal de angariação de retenção de clientes. Captar, porque podem ser usados canais mais amplos para mostrar o serviço e pode funcionar como o primeiro passo de um praticante, que não se sente confortável no ambiente de ginásio. Reter, porque os ginásios têm agora uma oferta mais ampla para cobrir períodos de férias ou mesmos ausências prolongadas devido a trabalho, podendo através destes canais estar mais presentes na vida dos seus clientes.
  • O digital não virá substituir o físico, são complementos, acima de tudo são uma excelente forma de Portugal aumentar o número de praticantes de fitness, que se situa nos 7% e que pode e deverá subir com o aumento de oferta em multi-canal.
  • A grande dificuldade do digital é a monetização, que só é rentável em larga escala, exemplo disso é a Apple que através do Fitness + oferece aulas e músicas de treino com uma mensalidade de 9,99$ (ainda não é comercializado em Portugal), ou seja, uma oferta de alta qualidade por um preço baixo. Uma grande maioria dos ginásios não consegue igualar a qualidade desta oferta, resta-lhe a ligação que detêm com os seus clientes.

Numa dinâmica de copo meio cheio, o digital é uma mais-valia, que acrescenta opções ao serviço actual e acaba por ser mais uma forma de captar novos clientes para os ginásios.

E qual é a sua opinião?
Partilhe connosco e deixe-nos ler o que acha do digital e qual o futuro para o nosso mercado.
Deixe a sua resposta aqui

(1) McKinsey & Company – Sporting Goods 2021 – The Next Normal for an Industry in Flux

 

 Ivo Gomes é Co-Founder e CMO na All United Sports, com formação executiva em Marketing e Vendas, Mestrado Executivo em Marketing Management pelo INDEG/ISCTE e Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa.
« Voltar às últimas notícias