Liderança 360 num Health Club, por André Henriques

Demasiados gestores de clube não consideram a importância de liderar todos os Stakeholders que influenciam de uma ou outra maneira as suas organizações. De acordo com Daniel Goleman, “Liderança é a capacidade de conseguir fazer as coisas acontecer através dos outros”|1|. Neste sentido, coloca-se a questão: Quem são os “Outros”?

Charismatic-Leadership1No livro “Leadership 360 Degrees”, John C. Maxwell identifica 3 potenciais elementos que qualquer líder tem que saber influenciar de forma a poder liderar a sua organização: (1) o nosso chefe; (2) os nossos colegas; e (3) a nossa equipa.

São diversos os casos de insucesso de óptimos gestores de clube que, por não conseguirem influenciar todas as partes, de uma forma ou de outra acabam por ver a sua tarefa muito mais dificultada.

Todos nós conhecemos gestores de clube que têm uma extraordinária aceitação por parte da equipa mas depois têm diversos problemas em fazer as coisas acontecer porque têm uma relação deteriorada com o seu chefe.

Temos também o exemplo do gestor que consegue ter o apoio do seu chefe direto em todas as suas iniciativas, contudo não consegue ter sucesso pois a sua equipa não o segue, consequência da falta de conexão entre ambas as partes.

Há ainda aquele fantástico gestor de clube que é admirado pelo seu chefe e pela sua equipa porém, no momento de ser promovido, nunca é uma opção porque simplesmente os seus colegas gestores de clube percebem-no como alguém a quem não se conseguem associar, quanto mais trabalhar sobre as suas ordens.

Em última análise, por mais influentes que sejamos com qualquer uma das partes, a situação desejável considera que possamos ter uma influência positiva nos três elementos. Como é que conseguimos fazer isso?

Liderar a nossa Equipa

Se analisássemos este tridente como se de uma pirâmide se tratasse, liderar a nossa equipa será para mim a base. Por outras palavras, o sucesso (ou insucesso) da nossa influência começa com as “nossas” pessoas, pois nós só conseguimos ser tão bons quanto elas nos permitem. Entre vários aspectos que temos que considerar, estes três são para mim determinantes:

1. Ideal Self vs. Real Self: Qual é a imagem que tens de ti enquanto líder (Ideal Self)? É igual àquela que a tua equipa tem (Real Self)? E se não for, estás preparado para diminuir o gap que existe?
2. Liderar pelo Exemplo: não peças nada à tua equipa que não estejas disposto a fazer primeiro.
3. Construir confiança: se a tua equipa não confia em ti, não te preocupes com mais nada, pois tudo o resto vai falhar. A questão aqui é simples: as tuas ações contradizem as tuas palavras, ou pelo contrário, ainda as tornam mais poderosas?

Liderar os nossos Colegas

“Tenha cuidado da forma como trata os outros no seu caminho para o topo, pois nunca sabemos quem é que vamos encontrar novamente no nosso caminho para baixo”.

Não sei quem foi o autor desta frase, contudo estou certo que seria alguém perfeitamente consciente de que a melhor maneira de termos sucesso é através da criação de relações positivas com o maior número de pessoas, incluindo os colegas que exercem o mesmo cargo que nós. Sobre estes últimos, aconselho o seguinte:

1. Simplesmente sê Humilde: muito provavelmente não és o melhor da tua empresa e, se o fores, é possível que esteja na altura de encontrares outro desafio. Pergunta a opinião dos teus colegas sobre os mais diversos assuntos relacionados com a gestão do teu clube e não tenhas receio de aplicar o que eles te ensinaram.
2. Sempre que possível, constrói uma relação fora do trabalho: Quem é que será capaz de fazer por ti aquela tarefa extra quando tu precisas de ajuda desesperadamente? O teu colega com quem falas somente nas reuniões gerais de gestores de clube, ou o “companheiro” com quem almoças ocasionalmente e partilhas as tuas histórias de “guerra”?
3. Mantém a integridade a todo o custo: Esta acaba por ser a mais simples pois a regra é de ouro e bastante acessível para qualquer um de nós: se não tens nada de bom para dizer sobre os teus colegas, não digas nada.

Liderar o nosso Chefe

Existe bastante literatura que trata este tema, e para quem queira aprofundar o tópico, aconselho um artigo da Harvard Business Review escrito por John J. Gabarro e John P. Kotter, “Managing Your Boss”. Na minha opinião, qualquer relação positiva com o nosso chefe tem que considerar o seguinte:

1. Investe tempo em conhecer o teu chefe: grande parte das relações entre subordinados e chefes falham porque desconhecemos a forma como o nosso chefe trabalha. É uma pessoa que prefere uma comunicação escrita ou verbal? Tem que ter conhecimento de tudo ou prefere ser informado somente em  determinados assuntos? Estas e outras questões deverão ser sempre analisadas e ,em caso de dúvida, pergunta.
2. Não tragas problemas sem teres algumas soluções identificadas: quantos de nós gostamos de ser abordados por pessoas que nos trazem somente problemas e nenhuma solução? Certamente que ninguém. O nosso chefe espera exatamente o mesmo de nós.
3. Sê mais do que um gestor, sê um Líder: Esta é uma das boas práticas partilhadas por John C. Maxwell no seu livro. Qualquer chefe gosta de um gestor que seja um perito em processos e que consiga executar na perfeição todos os fluxos inerentes à atividade do seu ginásio. Contudo, mais que um gestor, um chefe aprecia um Líder. Alguém que consiga identificar o caminho, alinhar as pessoas para percorrer esse caminho e motivá-las de forma a que elas consigam superar as barreiras que vão aparecendo.

Numa escala de 1 a 10, qual consideras ser a tua capacidade de influenciar a tua equipa, os teus colegas ou o teu chefe?

De forma a poderes ter uma resposta mais real, aconselho que coloques uma variante da questão referida  a pelo menos uma pessoa de cada círculo: “de 1 a 10, como é que avaliam a minha capacidade/influência em fazer as coisas acontecer?” A diferença entre esta última (Real Self) e a tua própria resposta (Ideal Self), dir-te-á o quão longo é o caminho que ainda tens que percorrer.

|1| Goleman, D. 1996. What Makes a Leader? Harvard Business Review

 

André Henriques é General Club Manager na Fitness First Middle East,  licenciado em Gestão do Desporto pela FMH e mestre em Gestão de Recursos Humanos pelo ISCTE Business School, sendo hoje uma das principais referências do sucesso dos portugueses,  além fronteiras, no mercado do fitness.
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